26 março 2010

Joana

Apetece-me fechar os olhos com tanta força, tanta força, tanta força... que me provoque lágrimas... Sinto no peito um aperto tão grande, tão grande, tão grande... que se explodisse podia muito bem ser uma espécie de big-bang! Há perdas que nunca se recuperam.
Recupera-se da perda do namorado.
Recupera-se da perda do amigo ou da amiga por uma coisa (in)significante (tempos depois).
Recupera-se a perda de um familiar como tios, avós, primos...
Recupera-se a perda do gato, do cão, do periquito.
Não se recupera da perda de um irmão, no meu caso de uma irmã.

Os anos passam uns a seguir aos outros, e quanto mais o tempo avança, "o tempo cura tudo!", dizem. "Com o tempo tudo passa!" ou "Com o tempo dói menos...", é o que dizem por aí.... É mentira. É mentira! É mentira!!! Por que quanto mais os anos vão passando mais a mágoa vai crescendo como se nunca tivesse acontecido nada e seja do teu tamanho. Tão diferentes... seríamos tão diferentes; em crianças notavam-se tão bem as nossas diferenças... Tu tão doce, tão agarrada à mãe, tão caseira. Eu tão rebelde, tão dada a qualquer um, tão arrueira... que saudades...! Saudades daquelas tardes de Outono ou da Primavera, não sei bem, em que vinhas ao meu encontro, depois do meu dia longo da escola. Saudades de brincar à chuva, contigo. Saudades das birras. Saudades de ti!

Lembro-me do dia que ainda estavas para nascer, meses antes. A revista MARIA, tão solicitada à uns anos atrás lá em casa, tinha aquela secção que ainda hoje acho um piadão - os bebés. Eu gostava daquilo. Gostava de saber os nomes. E lembro-me, a uma hora de almoço, o almoço era peixe, um vapor que não se podia da cozedura na cozinha, eu lembro-me de, sentada no sofá velho, com a televisão a dar os animadinhos, como eu lhes chamava, sentada no sofá eu folheava a revista que andava lá por casa... E, ao acaso, apontava um bebé, levantava-me, perguntava o nome do bebé à mãe. Depois de um, dois, três, quatro... sei lá mais quantos, acho que naquele dia até nem foram muitos, comparando às outras vezes. Joana. Parei. Olhei para ela. E disse: "A minha mana vai chamar-se Joana!". Depois, há dez anos e tal atrás não era como é agora que há uma centena de papas com não-sei-quantos suplementos, naquela altura os anúncios eram mais bonitos e a da papa Cerelac... era uma delícia, além da papa, claro! "Joana come a papa, Joana come a papa...". Eu dizia que se fosse um menino como tanta gente me desafiava só para me ver a desatinar, que se fosse um menino, que dava à vizinha. Eu queria uma mana! E mana nasceu.
"Três foi a conta que Deus fez", não foi? Dos três anos não passaste mais connosco. Já vieram doze ou treze, já nem conto. Não falo de ti. Não te vou visitar. Não quero pensar em ti. Mas amo-te! Tenho saudades tuas. Tenho saudades de ti! E não perdoo a tua falta! Descansa em paz!

25 março 2010

Crianças!

No outro dia recebi por e-mail o vídeo de uma chamada de uma criança a uma empresa de demolição em Dublin requisitando os serviços para a demolição da sua escola com os professores como extras. Querem ver? Façam play!

Toda a gente se ri mas terá assim tanta graça? Quando, aos vintes e cinco dias do mês de março, o corpo do Leandro regressa às margens do rio Tua. Vejam aqui http://www.publico.pt/Sociedade/corpo-de-leandro-encontrado-hoje-no-tua_1429338

A gente ri-se da pretensão daquela criança por ser algo realmente insólito uma companhia destas receber uma chamada daquelas... não passa pela cabeça de ninguém, em princípio.
Posso estar a fazer uma tempestade num copo de água mas uma moeda tem duas faces e ninguém pára cinco minutos para ponderar a gravidade da situação. Pode ser uma criança como qualquer outra que odeia a escola e os professores e os amiguinhos - já todos, a certa altura, passámos pelo mesmo - pode muito bem ser um sinal claro do dia-a-dia horrível daquela aluna.
Ninguém ligou ao sofrimento do Leandro, todas as crianças gozam umas com as outras mas uma coisa é gozar um dia ou dois ou até três outra é ser sistemático! Por issso se chama Bullying! É grave! É tão grave a criança gozada quanto a que goza. Se goza por que goza ela? O que a faz sentir prazer nisso? Não tenho bases de psicologia nem de sociologia mas se há especialistas que se dedicam a justificar actos bestiais como a pedofilia, a violação de menores e adultos também, a violência doméstica, por que não dedicam também o seu tempo a olhar por estas crianças? Façam alguma coisa!! Quem pode, que faça alguma coisa!! As crianças são o nosso futuro! o Futuro! Queremos um futuro de coisas más? Teremos um mundo extinto de Papas e Dalai Lamas e Madres Teresas? Que ouvirão daqui a 30/40/50 anos, os que sejam nos media? Que o filho de fulano matou o filho de sicrano?!

24 março 2010

Curtas-metragens

Há sonhos que ficam para trás... Estes são dois exemplos




23 março 2010

mulher violada

Violaste-a. Rompeste-lhe a alma. Rasgaste os seus tecidos vaginais, a sua pele, o seu orgulho, o seu ser. Deixaste-a banhada em lágrimas, sangue e semén. Deixaste-a ali largada. Cuspiste-lhe na cara, em cima, com despeito do corpo que fodeste sem dó nem piedade, sem respeito, sem uma ponta de humanidade de um monstro como tu! No virar de uma esquina donde só as sargentas imergem porque nem as ratazanas do esgoto surportaram tamanha bestialidade só denunciada, a custo, pelos gemidos aflitos dessa mulher. É morena? É loira? Ruiva? A raça? Isso importa?!
Mataste depois... minutos após teres fumado o teu charro ou a tua ganza, a tua droga!, depois de teres vestido as calças, o único som que aquela mulher podia ter ouvido foi o fecho ecler dessas calças sebentas de ganga barata e fedorenta. Mataste-a por dentro. Mataste-a depois com as tuas próprias mãos. Viste-a agonizar e aquilo deu-te gozo. Ninguém viu.
As putas da esquina deram com ela sem querer quando iam cobrar um serviço rápido e barato a meio da madrugada. Ligaram o 112. Todas as que viram aquela mulher ensaguentada, de roupas rasgadas, cara desfeita, apenas uma ficou. Enquanto a justiça dos homens tardava a chegar, essa puta de rua rezou-lhe um Pai Nosso e uma Avé-Maria, fechou-lhe os olhos, tapou-a com o seu casaco de peles comprado na feira da ladra. E esperou.

NOUVELLE VAGUE - WAVES

As memórias são como certas pessoas por mais livres que sejam buscam sempre o mesmo aquele laço afectivo de outros tempos. Não devia ser assim. Não devia ser assim. Não devia! O tempo é um relógio que tem vontade própria e se rege pelo sol, tu és um desses baratos que funcionas a pilhas baratas dos tosotões de bolsos rotos. És aquilo que não interessa. Já passou. Já faz muito tempo que o tempo passou por cá. E o que lá vai, lá vai... porquê voltar?
O tempo devia deixar marcas tão suaves quanto as penugens das aves juvenis, quanto as penas velhas dos progenitores adultos. Devia-se ouvir como o murmurar das ondas do mar. Rápido como as aragens do vento em tempo de primavera... Mas não é. Mas devia ser. Devia ser!