Vou rua abaixo, na rua calcetada e mais ou menos movimentada, descontraída, nesta tarde envergonhada de Outono; há crianças a brincar, rapariguinhas adolescentes em conversas banais das idades delas - quase nunca se vêm rapazes na rua a cochicharem -, homens velhos sentados nas cadeiras da esplanada do café, velhas que se dirigem à igreja para a limpeza semanal da igreja. Duas senhoras de meia idade comentam que a mulher amiga de uma delas acabou de descobrir que o marido a traía com uma brasileira e que acabou por troca-la por essa dita mulher que veio do outro lado do oceano.
Para elas, essa mulher, de nacionalidade brasileira, vamos chamá-la de Maribelle, veio simplesmente para isso: deu-se ao trabalho de atravessar quase meio mundo para se meter entre um casal casado à uns bons vinte anos, com dois filhos que já namoram, um até já tem a casa quase pronta para o dia do casamento, logo o marido dela, foi logo chegar à terra dela, morar na terra dela, trabalhar na terra dela, conhecer o marido dela e encantá-lo. Logo a ele... porque não o da vizinha emproada?! Até tem uns bons vinte quilos a menos, e usa deodorant, faz a barba todos os dias, e anda sempre bem arranjado e cheiroso... mas não!! A Maribelle foi logo, logo interessar-se por ele!!
Embarca no avião, esperançada de uma vida melhor a aguardar a sua chegada no aeroporto. Quer mandar dinheiro à mãe que vende mandioca e água de coco no paredão da prainha para ajudar os cinco irmãos também.
Chega a Portugal. Não é bem o paraíso que ela pensava e nem todos os portugueses, ou melhor, as portuguesas a recebem como ela esperava. Há cíume, há inveja, há desconfiança. As pessoas dos meios pequenos temem sempre mais do que necessário pelo pouco que já têm...
Chegou à terrinha e conheceu, vamos chamá-lo, Fernando. Um homem na casa dos seus cinquenta anos, Maribelle terá os seus trinta e muitos, talvez quarenta; encantador, de bigode farfalhudo, e uma risada estonteante.
O amor acontece. Ou não...
Às vezes a tentação é muito maior e o desejo carnal é avassalador, supera moralidades e convencionalismos; e ninguém lê o que vai na cabeça da outra... a mulher, a esposa, mãe dos dois filhos dele, sente-se insegura. Começam as discussões dia sim, dia sim. Mais cedo ou mais tarde, Fernando concretiza aquilo que a mulher dele mais temia, chamemo-la Almerinda, o marido saiu de casa; fez as malas dele, pela primeira vez, ele soube dobrar a sua roupa como deve ser e fazer as suas próprias malas, coisa que nunca acontecera antes. Almerinda fica sozinha numa casa que dia após dia lhe parece ainda maior que na primeira vez que entrou nela após o dia do casamento, na noite de núpcias, à vinte e tantos anos atrás.
É uma situação... uma espécie de "pau de dois bicos". Por um lado um casamento desfeito, por outro uma felicidade fresca de um recém casal. De quem é a culpa? ...
Almerinda é como as duas mulheres que falavam dela na rua - de certa idade, com uma mentalidade muito peculiar, muito própria dos meios pequenos. conservadora. É uma mulher chamada "de respeito", e que alega que "os homens são todos iguais, não podem ver um rabo de saias... ela enfeitiçou-o!"...
Todavia, se Almerinda visse, por exemplo, a filha dela... a filha de vinte e poucos anos, que depila o buço, as axilas, as pernas, as virilhas, arranja as sobrencelhas, vai à manicure, à pedicure, compra os seus cremes faciais e corporais, maquilha-se, vai ao cabeleireiro uma vez de tempos a tempos, veste-se bem... cuida dela, mima-se. Compra lingerie arrojada, desafia o companheiro....
Então, talvez por aí, visse que tem a sua parte de culpa da ruptura do casamento que pensou ser para toda a vida..."Os tempos são outros", dizem! Pois são! Por isso mesmo! Por essa razão mesma deviam olhar mais para si antes de só verem, e pensarem, e sentirem, e respirarem o marido que têm. Estimá-lo não passa por tanto exagero, além disso se não gostarem de si mesmas não poderam nunca gostar do homem que têm.
Mas também há, aquele homem, que não quer nem deixa que a mulher se rape, sequer.
Para mais tarde, olhar para outra mulher qualquer, indenpendentemente da nacionalidade dela, e gostar de uma axila lisinha, uma virilha toda ou quase toda depilada, umas pernas lisas, suaves, um buço inexistente, sobrancelhas arranjadas, e uma lingerie daquelas... sabem, aquelas das netinhas; tipo campanha: "FOGO ÀS CUECAS DA AVÓ!!"; "VIVA AO FIO DENTAL!!".
Voltando um pouco à mentalidade feminina, antes que me esqueça, sabem qual é o verdadeiro problema destas mulheres casadas uma vida inteira? É esquecerem-se que são mulheres; preferem falar da vida d'umas e d'outras e esquecem-se da sua própria natureza.
A lingerie arrojada sempre existiu, claro que, dentro da evolução dos seus tempos, não se pode comparar um simples cinto de liga dos anos '60 (ver imagem ao vosso lado direito) com um dos nossos tempos...
No entanto, estas mulheres maduras, vividas preferem mesmo a má língua do que surpreenderem-se a si mesmas ao comprar um mimo deste tipo ou de qualquer outro.
Qual é o problema?! Os pormenores fazem TODA a diferença, um corpete de tempos a tempos, um cinto de ligas, uma string ou uma tai nesta ou naquela cor com um laço aqui, uma renda ali, uma abertura secreta entre nas cuecas - não são essas mesmas senhoras que afirmam que sabem muito bem como são os homens? Então provem-no!
Mulheres - amem-se, valorizem-se!!
Homens - olhem para o que têm em casa todos os dias...
Uma mulher só porque é mulher não deixa de ter os seus próprios desejos sexuais nem sequer esquece a sua feminilidade.
Não são só os homens que têm desejo nem tesão.