cheiro a nicotina, descafeinado, café das índias, café, chocolate. o ambiente é amistoso, na verdade, é um misto de muita coisa, digamos, tem o seu... q.b. de banalidade. " - há de tudo!", ouve-se do barulho de fundo, da confusão esganiçada, das vozes estéricas das mulheres mal casadas, digo eu, sei lá eu! eu não sei nada. eu tenho vinte aninhos ainda pouquinhos, elas são quarentonas, umas já avós mas são daquele tipo que lembram os retalhos - pano daqui, pano dali, redilhas, peúgas, turses, cuecas rotas e velhas, borbotos em todo o lado; no ar imagino uns fios soltos a planar na gravidade...
cheiro a nicotina, descafeinado, café das índias, café, chocolate a derreter na boca. é uma aventura sentar-me numa destas mesas de pinho mel entre mulheres e homens. eles falam de futebol e gajas, literalmente gajas, e futebol e motas mas também vão variando entre um tema e outro lá vai surgindo umas conversas de algo mais prático e interessante; a motivação da conversa delas agora é sobre não sei quem que vem não sei de onde não sei quando, uma pausa da estimação do farmville.
ah o farmville... coisa estranha essa, parece um virus que se instalou por todo o lado. falam constantemente do farmville. uma porque tem a torre eiffel, a outra que tem a pisa; uma qualquer fala da colheita da "árvore dos morangos", a outra que tem um poço... e todas ao mesmo tempo nem sei como se entendem. os homens desdenham, riem-se entre si da figura burlesca das suas mulheres; mulheres vazias de si, cheias de pretensões fúteis. satisfazem-se assim sem conhecer o mundo fora do seu umbigo, abaixo do seu nariz.
o tabaco acalmou. elas continuam na conversa agitadíssima, super interessante - o ponto alto da semana delas - o volume deles baixou; o meu chocolate preto da côte d'or está a chegar ao fim, já só me falta um quadrado...
chegou ao fim. já não tenho o sabor inical do café da máquina nespresso, dos grãos de café compactados nestas embalagens modernas que se enfiam nas ranhuras das novas máquinas de café.... como é que enfiam ali bagos e bagos de café? é curioso, no mínimo. enfim! modernices como diria a minha mãe. eu, pessoalmente, para mim e para vós profiro a minha frase de excelência que ainda nem publiquei no quadrado das coisas de momentos: "a ignorância é má mas a limitação é muito pior. combates a ignorância de uma pessoa com instrução e dedicação; mas a limitação... como combates?"
fizeram uma pausa do tabaco. comem pevides e tremoços; falam dos aborrecidos e doutras coisas que sei lá... são tão banais que nem chegam aqui, a dois metros de distância entre mim e eles; elas falam mal deles entre si e programam a sua noite de sábado deste fim-de-semana que será uma quebra de rotina dos últimos meses; não descansarão a língua mas talvez as costas depois de meses de trabalho duro na quinta.