Eu gostava de ser um pássaro e voar sem destino quando me apetecesse. Gostava de pousar nos ombros de alguém ou no aconchego de duas mãos juntas fazendo uma concha e sentir os toques leves de um dedo a fazer festas na minha cabeça. Ouvir os risos das crianças. Estar no topo de uma árvore e acompanhar o raiar do dia com o meu chilrear - como deve ser bonito a alvorada, e na primavera então...
Sinto o cheiro a fedor das pétalas dessas flores mal amadas dos campos, tão pequenas, tão belas, tão singelas, que discretas são!... chamam-lhes Azedas por gostarem, os pirralhos, de as arrancar da terra e chupar o caule azedo dos seus corpinhos frágeis e pintar os dedos de amarelo, da cor do sol,
cor das pétalas frágeis. E o orvalho, que pela manhã tem um cheirinho suave, vocês não acreditam mas é verdade, hummm é uma delícia estas coisas da Mãe Natureza..
Eu gostava de ser um pássaro, pairar nas brisas suaves do vento, bater lentamente as minhas asas e ver mundo e meio.
Em vez disso aqui estou eu num corpo humano que mais parece um iô-iô porque é feminino e passa a vida no jogo estica-encolhe! Mais presa do que nunca porque as minhas decisões não dependem, quase nunca, de mim...
Eu adorava ser um pássaro. Qual deles? Um qualquer!!