18 novembro 2009

Maria Teresa

Maria Teresa era uma rapariguinha como tantas outras mas ruiva. Ruiva, sardenta, e um sorriso de orelha a orelha.
Mas Maria Teresa, Teresinha para a mamã, tinha qualquer coisa além daquela particular figura; algo nela causava a qualquer pessoa  uma irritabilidade única quando a via, ou, na melhor das hipóteses, um ar de compaixão eterna. Aquele jeito dela desajeitado, o riso esganiçado, a pele quase cor-de-laranja, a fatiota sempre completa de xadrez e riscas verticais ou horizontais, consoante os dias, camisinha bem engomada, o casaco de lã feito pela avó, o perfume a flores delicadas... causava verdadeiras náuseas, mas pronto!
Teresinha até era engraçada... à noite! Quando a mamã, depois do jantar, a ia deitar com uma trança bem grossa, bem ruiva, de cada lado da cara arredondada, e dizia-lhe:
"- Boa noite Teresinha!"
"- Boa noite mamã."
"- A mamã gosta muito de ti, e o papá, e a avó, e o avô..."
"- Eu também gosto muito de todos vocês; dá-lhes outro beijinho meu quando fores para a sala ver a televisão."
"-Eu dou minha querida." disse a mãe com um beijo demorado na testa da menina, apagou a luz e saiu.

Teresinha acreditava que conseguia tocar nas estrelas enquanto se aninhava nos seus lençóis de flanela com os seus bonecos desenhados... e dizia-o a toda a gente. Claro está que, todos os outros meninos, ora gozavam com ela, ora se riam da patetice; mas a menina, apesar do desdém dos amiguinhos, sorria e continuava caminho, colhia flores a caminho de casa, e dava-as à avozinha que tinha o lanche preferido dela à sua espera, delicioso como sempre: croissants bem quentinhos, acabados de fazer, com pepitas de chocolate aqui e ali, a compota de frutos silvestres com um toque do licor preferido do avô, e o seu grande copo de leite.

Maria Teresa era feliz assim, não lhe importava aquilo que era por fora, embora gostasse das suas tranças ruivas e das suas sardas porque a tornavam diferente dos amiguinhos; a "vó" sempre lhe disse "- És uma menina linda, única, especial. As tuas tranças assim ruivas, e as tuas sardas fazem de ti alguém que mais ninguém consegue ser, e ter um dom que mais ninguém consegue alcançar. Teresinha, gosta de ti, sempre!..." Na casa dos avós havia uma lagoazinha com muitas flores em torno de si, onde os passarinhos chilreavam muito e as borboletas pairavam em todo o lado. Adorava ir até lá, deitar-se entre as ervas, respirar aquele ar de polén... no dia em que uma borboleta pousou na ponta arredondada do seu nariz, Teresinha sorriu, e achou que a avó tinha razão, e que nada nunca lhe faria tanta falta como as estrelas no céu e os avós por perto.
Se era diferente, melhor!