21 agosto 2009

O caseiro

Não há nada mais doloroso que ver uma pena no ar a ser forçada a seguir o seu caminho pelas ondas de ar forte dos carros que passam por ela.
É tão graciosa a planar, parece que dança com o vento!

Naquele fim de Maio, os pombos, que arrulham nos troncos centenários dessas árvores ao fundo do quintal, adivinham as tardes soalheiras do verão! Auspiciam bons tempos para que o caseiro prepare com tempo e sabedoria as portadas, já gastas do tempo, para os ventos outonais...

Limpando o suor da cara durante a labuta do trabalho, naquele dia, na lavoura, reparou na graciosidade daquela pena ainda mal formada, ainda com vestígios de penungem, que foi acentar bem em cima do seu nariz! Fitou-a com os dois olhos, equilibrada mesmo na ponta do seu nariz abatatado... mas não se conteve por muito tempo, "Atchiiiiiiimmmm!!", espirrou com uma tal violência das cócegas que a pena lhe fez que verteu uma lágrima no cantinho do olho pequenino e amendoado, doce que nem mel...

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O verão passou quente e amoroso! Quando o outono chegou, bateu à porta a meio da noite, com uma chuvada tão forte, que embora o seu sono fosse naturalmente pesado, naquela noite foi interrompido. Levantou-se, aproximou-se da janela, empoleirou-se em cima de um banquinho, que ali tinha guardado para alcançar as suas lembranças, escondidas bem lá atrás, junto à parede no topo do guarda-vestidos; e os seus olhos brilharam quando colou a sua cara ao vidro, embaciando-o com a respiração quente, ainda do sono, ao ver tamanha beleza - aquela chuva forte e fria abençoada...

Não adivinhava, porém, que iriam ser temos difíceis para si. Nunca se metera em confusões; é o que se chama por aí de uma pessoa pacata. No entanto... um dia... houve um reverso na sua vida

1 comentário:

M disse...

Bem... que tamanha profundidade!


Só mesmo tu, para redigir contos desta natureza. Educados de forma particular, a nossa família tem algo de especial, ainda não sei bem o quê, mas tem.

Quando falo em família, refiro-me a nós =P