quero chorar aqui, que ninguém vê, e rir do que vejo, que só eu vejo, quero ser eu. quero o meu lugar ao sol... quero voltar atrás no tempo e fazer coisas de certo modo diferentes; pequenos e singelos pormenores. coisas que deixei passar na altura e agora me persegue a sua imagem para todo o lado. esta não sou eu. eu quero continuar a sonhar. os sonhos-acordados, pois claro está. quero voltar a sujar os dedos de tinta d'óleo e borrar as telas - ah o prazer de sentir a tinta deslizar sobre os meus dedos!... - quero as minhas linhas de novo, os meus bocados rasgados de guardanapos da cantina ou do café; quero os lápis de cor FABER CASTLE à minha volta, o cheiro entranhado nas minhas mãos, na bolsa, na camisola ao final do dia. quero a minha pasta enorme onde guardo os meus esboços. onde tenho guardado os meus sonhos desconhecidos... eu quero o meu lugar ao sol! tenho direito a ele! e por onde ando só há mau tempo, e chuva e brumas. e eu não quero nada disso. quero as minhas letras todas de uma vez só. quero as minhas folhas brancas A3 a conversarem comigo. quero as minhas letras. os meus medos. os meus sonhos. as minhas idéias. as minhas teorias. eu quero os meus tempos de escola que ficaram lá atrás. quero o que de bom aquilo tudo tinha. tenho de ir buscar os meus lápis.
obra de WASSILY KADINSKY, YELLOW, RED, BLUE, 1925
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