Lorena.
Lo-re-na... que mulher!!!
Lorena era uma mulher na casa dos seus vinte anos ainda, muito nova, muito doce, muito bela, muito sedutora; sabia aquilo que queria. Cabelo preto, comprido, de madeixas cor de ameixa soltas ao vento, uma pele de uma tez branca como a neve, olhos amendoados de um castanho escuro - quase negros, uma boca rosada, de lábios entreabertos, no limiar de se tocarem, um corpo que dança ao andar.
A primeira vez que entrara numa loja de lingerie, ria-se agora ao lembrar, ía tímida e expactante de descobrir algo de excepcional, tanto que merecesse o rótulo dos bombons preferidos da sua lista: ferrero rocher, aqueles bombons franceses que se derretiam na boca dela... "Algo excepcionalmente bom!"
Lorena procurava uma lingerie ousada mas sofisticada, "- O que tem?"; o nome da marca ficou-lhe no ouvido e a certeza de que era aquilo quando tocou no tecido daquele corpete.
Havia cumplicidade no ar entre ela e a vendedora. Mês após mês lá ela dava um salto à loja para ver as novidades; e nisto passaram-se três anos em compras sucessivas da dita marca que a seduzia e que lhe deixava o namorado aos pés.
Um belo dia, em "conversas de mulheres", Lorena contou a uma amiga a lingerie que usava para ocasiões especiais plantando-lhe uma semente pequenina de curiosidade. Francisca, a amiga, pediu-lhe se era possível ter em mãos um catálogo da colecção seguinte; daí em diante tornaram-se confidentes de pormenores rendados!
Mais tarde, no entanto, Francisca não tinha hipótese de se dirigir à loja para ver as novidades de uma outra marca (que faz o maior esforço para se manter no pódio já que, só o nome, ainda a mantém), e pediu a Lorena uma ajuda.
Lorena dirirgiu-se à loja e pediu a gentileza de levar alguns artigos para a sua amiga experimentar mas não tinha a certeza dos tamanhos dela, pediu que levasse em dois tons - preto e vermelho - e em dois números diferentes também. Tal pedido levantou uma série de problemas e dificuldades quanto ao tempo de ausência dos produtos. Lorena sentiu-se indignada e ofendida; agravou o seu tom de voz, perguntou uma última vez se era possível ou não aceder ao seu pedido, a empregada disse que sim embora contrariada e Lorena saiu da loja olhando para a montra.
Porquê? Por ironia.
Eu explico: a senhora que a atendeu é daquele género de mulheres recatadas, cheias de preconceitos, definindo lingerie em cuecas e soutiens o maior possível, o mais básico, nas cores branco, champanhe e preto! Vermelho é cor do pecado, rendas nem pensar! Quando ela olhou para a montra não esperava ver outra coisa senão aquilo que realmente viu: pijamas com bonecos, adoráveis coelhinhos estampados em algodão!
Mulheres destas não têm coragem, sequer, de olhar para uma lingerie arrojada, de rendas, strings abertas em baixo, arcos de soutiens sem a copa, mostrando os mamilos dos seios das mulheres, corpetes acetinados ou com rendas, cintos de ligas, acessórios... no entanto nem um pingo há de vergonha quando olham de lado, quando julgam, quando criam intrigas entre a e b. "Isto é para putas!!!!", dirão!, diriam, se pudessem, em voz alta e em bom tom de se ouvir ao longe! Preferem a má língua, as intrigas do que a sedução, o amor, a paixão, o sexo! Sexo?!: ele por cima, ela por baixo; ele manda, ela faz mas desde que não sejam fellatios e nunca exprimentaram cunillingus. Não admira que depois se saiba o que se sabe...
Os tempos não mudam assim tanto; o que precisam é de livros!!
No dia seguinte, Lorena devolveu os artigos e esperou que a sua vendedora regressasse de férias para então resolver os seus quês e porquês quanto à lingerie e às escolhas da sua amiga.
Não se pode ter qualquer pessoa à frente de um balcão, seja ele de que tipo for, principalmente se se tratar de um balcão de lingerie; as vendedoras têm de estar conscientes que podem estar a atender a senhora mais requintada ou a mais reles, a dama ou a rameira, a menina, a adolescente, a esposa, a amante mas não deixam de ser mulheres! Se não são capazes de perceber isso por vocês mesmos procurem formação de atendimento ao público específico!
1 comentário:
Quando eu for grande, abro uma loja de lingerie, e convido-te para ires para o balcão =D
Espírito e bom gosto não te faltam! Ideias tambem não te devem faltar!
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