Pega fogo ao rastilho
entre a sementeira de milho.
Milho?!
Pipocas?
Doces?... Salgadas?...
Criaturas mal amadas, essas,
que andam cá e lá
nessas ruas desertas,
entre portas e travessas
em noites sem lua,
sem maldade, sem cura...
Choram, choram...
lavam as calçadas e os pés frios e descalços,
e os olhos cor de amêndoa
não olham para o céu.
As beatas, que não as vêm, fingem a caridade;
atrás do véu o que se vê é vaidade.
Invejam-se umas às outras discretamente à frente
do padre, qual delas a mais... qual delas a melhor...
levantando-se as saias a roupa interior é vermelha,
essa cor do pecado em torno dessas coxas gordas
e mamas secas do leite que deram aos filhos.
No fim da colheita do milho
acendem a fogueira para dançar e encontrar
a maçaroca especial, como desculpa,
para olhar com maldade, com desejo, o homem
e encontrarem entre as videiras verdes do pai delas
ou entre janelas e portas dos quartos imaculados,
o ninho donde se ouvem os gemidos desse coito interrompido.
Ao Domingo, vão pela matina, à capela da Nossa Senhora das Dores
e choram arrependidas o acto, a má fé, o pecado que as dominou,
que elas se deixaram dominar pelo prazer da carne.
Casadas à pressa ficam presas a um homem
que detestam a vida toda
e a vida toda passam na igreja
entre novenas, espertinas e missas matinais
em rezas pelos pecados, pelas almas
cobiçando o padre novato,
fartas do monsenhor já velho e mais que velho dessas andanças,
levanta os braços ao Senhor e pede perdão,
em vão, das danças das ancas em torno de si.
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